quarta-feira, 3 de março de 2010

versos verdes

Já perdera as contas de quantas vezes tinha dito a mesma coisa, de quantas vezes esclarecera para dois segundos depois parecer que não tinha dito nada e o mais irônico de tudo é que ela não largava a situação, simplesmente porque não tinha a mínima vontade.
É claro que pelo menos uma vez por dia ela ameaçava ir embora, pegava o casaco onde quer que ele estivesse, procurava as chaves na bolsa, arrumava o cabelo rapidamente e marchava
holding-hands1decidida para a porta, mas fazia
tudo isso esperando pra sentir o aperto da mão dele em seu braço ou em sua mão, segurando-a, impedindo-a. Ela não sabia porque fazia aquilo e sabia que um dia ela não sentiria aquele aperto forte, meio nervoso e então ela teria que caminhar sozinha - se sentindo mais vazia e com mais frio do que nunca.
Ainda assim, gostava de ver aquele olhar intenso nos olhos dela, num pedido mudo para não fazer brincadeiras daquele tipo, censurando-a em silêncio e ainda que visse uma sombra de raiva dela, não sentia o menor medo. Até gostava de ver aquela raiva perpassando os olhos dele, porque era ligeiramente louca, porque amores incomuns faziam muito mais o feitio dela e na concepção dela amor tinha que ter dessas coisas, além de beijos um pouco desesperados, mãos entrelaçadas e toda a proximidade que ela descobriu necessitar de uma hora pra outra, por mais que ela odiasse admitir.
De todas as coisas que ele fizera despertar nela, aquela necessidade de estar perto, de estar junto e de discutir por cada ponto fora do lugar era a mais irritante, a mais incômoda e a mais curiosa, porque carregava uma série de mistérios que ela acreditava nunca ser capaz de decifrar. Se alguém lhe tivesse contado que dali a alguns dias ela estaria daquela forma, os olhos brilhando tanto quanto brilhavam, a boca num sorriso quase que em tempo integral e a atenção tão desviada em certos momentos, ela teria rido da pessoa, e rido alto. Mas agora encontrava-se em um furacão de coisas novas e de intensidades maiores em que ela nunca imaginou estar e ela em toda a sua bagunça não achava aquilo ruim, nem de longe.
Seu espírito curioso estava de volta e ela queria saber o por que de todas as coisas mesmo sem saber explicar muitas outras, suas manias estavam mais irrefreadas do que nunca e pela primeira vez em sua vida ela não se sentia culpada por permitir-se sentir as coisas e falar tudo com sinceridade. Isso sem contar o seu espírito de criança que saltitava de saia rodada por todos os cantos e incrivelmente conseguia fazer com que ele risse alto e a olhasse com uma admiração que ela não teria conseguido imaginar nem nos seus sonhos mais coloridos. Se alguém lhe perguntasse qualquer coisa naqueles últimos dias, ela teria encontrado uma resposta satisfatória, teria inventado uma teoria muito mais forte do que as que costumava criar, sorriria e até mesmo conseguiria explicar cada movimento de seu próprio destino.
Ela estava aprendendo e juntamente com isso estava ensinando e todos os dias havia algo novo para ver ou para dizer, mesmo que todos os dias fossem iguais e ela, para sua própria surpresa, sabia não estar nem um pouco disposta de abrir mão daqueles olhos tão verdadeiramente verdes que um dia ela encontrara quase que por acaso
.

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